Serra e Paulo Preto: as pedras perdidas no meio do caminho

O tempo passou, mas nós não esquecemos de Paulo Preto, o ex-diretor do Departamento de Obras Rodoviárias de São Paulo (DERSA).

Responsável pela construção do Rodoanel, pela duplicação das marginais Pinheiros e Tietê e pela ampliação da Jacu Pêssego, o engenheiro foi acusado pelo ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antonio Pagot, em entrevista à revista IstoÉ, de desviar recursos do Rodonael para as campanhas de Serra, Alckmin e Gilberto Kassab (PSD).

A denúncia, estranhamente, não mereceu dos principais veículos de comunicação do país o mesmo vigor na investigação que foi destinado a outras denúncias.

Felizmente, a última edição da revista piauí rompe o silêncio e traz um perfil de Paulo Preto, assinado pela jornalista Daniela Pinheiro. Abaixo, listo os trechos que mais chamaram minha atenção:

– Era ele (Paulo Preto) quem assinava convênio, autorizava pagamentos, negociava com empreiteiras, mandava desapropriar áreas e bancava alterações nos projetos originais. Juntas, as obras (Rodoanel, duplicação das marginais Pinheiros e Tietê e ampliação da Jacu-Pêssego) custaram cerca de R$ 11 bilhões;

– (…) A candidata do PT (Dilma) disse estar indignada com o caso Erenice, mas falou que era o tucano quem deveria se explicar sobre “seu assessor Paulo Vieira de Souza”, que fugira com “R$ 4 milhões de sua campanha”. Serra não comentou a observação;

– Procurado pela imprensa no dia seguinte, o tucano negou conhecer o engenheiro. Foi quando Paulo Souza disse em entrevista à Folha de São Paulo: “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”. No mesmo dia, Serra reformulou sua frase: admitiu que conhecia Souza, mas não pelo apelido de “Paulo Preto”, e disse se tratar de um gestor competente;

Quando de sua prisão por levar um bracelete roubado da marcar Gucci em uma joalheria para avaliação, Paulo Preto usou seus contatos para “melhorar” o atendimento;

– Souza disse ter ficado “estarrecido” com as péssimas condições de trabalho dos policiais do 15º DP e, por isso, passou a mão no telefone: “Ô Aloysio, puta que o pariu, essa delegacia aqui é uma merda, está cheia de computador fechado no chão, os caras aqui escrevendo à máquina. Que merda é essa, Aloysio?”;

Seu interlocutor era Aloysio Nunes Ferrreira, então candidato ao Senado pelo PSDB, ex-chefe da Casa Civil do Governador José Serra. Amigos há mais de duas décadas, Paulo Souza é considerado um afilhado político de Nunes Ferreira;

– Palavras de Paulo Preto sobre sua prisão: “Bastava um telefonema de alguém do governo para eu não ter que passar por tudo aquilo. Mas um telefone direito. Não é ligar e falar: “Vê o que dá pra fazer.” Eles sabiam que a delegada estava agindo com abuso, bastava avocar o caso para outra delegacia”, disse;

– Segundo ele (Paulo Preto), conversou sozinho com o então governador (Serra) uma única ocasião, quando falaram sobre a queda das vigas nas obras do Rodoanel, ocorrida em novembro de 2009, ferindo três pessoas. “Mas ele sempre soube, sempre, quem era eu”, enfatizou;

– Palavras de Paulo Preto: “Olhas essas luzinhas azuis! É a única ponte do Brasil com iluminação azul.Sabe por que é azul? Porque eu gosto de azul. Viraram pra mim e falaram: ‘Porra,mas tem padrão na iluminação, tem que ser cinza.’ Tem padrão o caralho! Foda-se, quem manda sou eu. Vai ser azul e pronto”, disse;

– Em determinado momento do governo, sua autonomia parecia total, o que ele disse só ter sido possível graças ao respaldo de José Serra;

– “Então, o que quero dizer é que TUDO o que foi feito por mim na Dersa tinha o aval do governador José Serra.” Palavras de Paul Preto;

– Também esperava que ele esclarecesse uma acusação feita por Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o DNIT. À revista IstoÉ, Pagot afirma ter sido pressionado por Paulo Souza a assinar um documento para liberar R$ 264 milhões a mais para a obra do Rodoanel. O dinheiro, segundo Pagot, serviria para financiar a campanha de tucanos em São Paulo.

– Palavras de Paulo Preto: “O que eles querem que eu diga? Que eu arrumei dinheiro em caixa dois? Eu quero que se fodam. Quem pede dinheiro para a campanha do Serra é o Serra (…)”

– Testemunha da prisão do engenheiro no caso Gucci, Russomano deu uma entrevista dizendo que Souza foi preso com dinheiro nas meias e que a delegada Scapulatiello sofrera pressão política para libertá-lo. Quando foi detido, ele tinha R$ 11 mil em espécie nos bolsos da calça e da jaqueta. A delegada Nilze Scapulatiello negou ter sofrido pressão. Mas foi condenada a pagar R$ 30 mil a Souza por abuso de autoridade. Logo depois do episódio, ela foi transferida da delegacia do Itaim. O inquérito sobre o roubo da joia foi arquivdado:

– Paulo Preto acredita que o seu caminho ainda é o setor público. “O Serra não vai me chamar, mas se for o Kassab, o Barros Munhos, o Orlando Morando, esses me chamam na hora. Eles querem e precisam de um gesto”, disse, referindo-se ao atual prefeito e a políticos do PSDB paulista.